Concilium 2017-5. Theologie und Literatur
Herausgegeben von: Maria Clara Bingemer, Solange Lefebvre,
Erik Borgman, Mile Babić
Vollständige Übersetzungen dieser Ausgabe sind in den folgenden Sprachen erhältlich:
English: Literature and Theology
Español: Teología y literatura
Deutsch: Theologie und Literatur
Italiano: Letteratura, poesia e teologia
Português: Teologia e literatura
Editorial
Ha que reconhecer que o discurso da “ teopoética” em geral e particularmente em relação com a interpretação da Escritura e a reflexão teológica é ainda um bastante recente desenvolvimento que brota da intersecção entre teologia e estudos literários, similar a “ espiritualidade bíblica” – que brota da intersecção entre estudos bíblicos e espiritualidade; e “ estética teológica” que brota da intersecção da teologia com todas as formas da estética: arte, literatura, música, etc.
Trata-se de “…um espaço interativo entre estudos bíblicos literários, teologia e espiritualidade e mística e é precisamente aquilo que seu nome diz – “ teopoética” – ou teoria do poder espiritualmente transformador dos textos bíblicos como textos e da profundidade teológica dos textos literários, atualizados através de uma certa forma de leitura ou interpretação. [1]Seria mais preciso talvez dizer que teopoética e a face literária ou textual da reflexão mais ampla sobre estética teológica como uma forma de aproximação da espiritualidade.
A razão de ser da crescente importância da mediação da estética no fazer teológico repousa no fato do crepúsculo das grandes narrativas e a fragilidade do discurso político. O simbólico e o pré-racional aproxima-se mais e interage melhor com a experiência – incluindo aí a experiência religiosa – do que com a experiência racional e especulativa. E segundo os pensadores que trabalham hoje com essa área de estudos, a natureza e as sociedades humanas encontram motivação maior e mais instigante com imagens e fábulas e histórias do que com idéias.
Apesar da teologia ser principalmente uma atividade intelectual, o trabalho dos grandes teólogos sempre foi atravessado pela imaginação. O mesmo aconteceu com o começo de todas as religiões. As mesmas começaram com histórias, rituais. Como bem diz Amos Wilder: Antes da mensagem, deve haver a visão/Antes do sermão o hino, Antes da prosa o poema. “ [2]
A fé deve ser lida e vista através das lentes estéticas, portanto. Mas não entendendo isso como uma atividade para pessoas ricas, burguesas e pouco ocupadas. A fé vivida dos pobres e dos povos originários dá nascimento a uma estética teológica libertadora com grande potencial subversivo passível de repensar conceitos, símbolos e significados modernos e pós-modernos. Juntamente com a filosofia e as ciências sociais, portanto, a literatura, a arte e todas as manifestações estéticas são hoje uma necessária e crescementemente importante mediação hermenêutica para a Teologia.
[1]Sandra Schneiders, “Biblical Spirituality.” In The Bible and Spirituality: Exploratory Essaysin Reading Scripture Spiritually, edited by Andrew T. Lincoln, 128–50. Eugene, OR: Cascade, 2013. Citationfrompage 145. (atraducao, como todas as outras, e livre e feita por mim mesma).
[2]Amos Wilder: Before the message there must be the vision,/ Before the sermon the hymn, Before the prose the poem. In Grace Confounding: Poems, Philadelphia, Fortress Press, 1972, pg IX
Por isso esse número da revista Concilium apresenta a seus leitores essa nova hermenêutica através de vários olhares e perspectivas. Os seis artigos que compõem a primeira parte vêm da Escócia, com a Prof. Heather Walton analisando a autobiografia como gênero literário, espiritual e teológico. Da Argentina escreve a Profa. Cecilia Avenatti de Palumbo, ex presidente da Asociación Latinoamericana de Literatura y Teologia, sobre a literatura como mediação hermenêutica para Teologia. A Profa. Luce López-Baralt, da Universidad de Puerto Rico, grande especialista em mística comparada e reconhecida arabista, aproxima mística e literatura através da pena inispirada de São João da Cruz. De Portugal, o Prof. José Tolentino Mendonça, da Universidade Católica Portuguesa, escreve sobre a Bíblia e sua interpretação como escritura infinita. Não poderia faltar nesse panorama a teologia de Dante, que tem especialistas no mundo inteiro, dentre eles o prof. Vittorio Montemaggi, de NotreDame. E para terminar, o Prof. Luiz Gustavo Meléndez Guerrero, jovem pesquisador do departamento de Ciencias Religiosas da Universidad Ibero Americana da cidade do México, aborda os clássicos temas que sempre estão presentes quando se fala de literatura …e de teologia: eros, poesia e corpo.
A segunda seção da revista traz vozes dos cinco continentes refletindo sobre a interação entre Teologia e Literatura nestas latitudes. Carmiña Navia Velasco, da Colombia, fala pela América Latina. Maya Rivera, representante dos latinos dos Estados Unidos , autora do importante livro “Poeticsoftheflesh, traz uma importante e original reflexão sobre a poética de sobrevivência de caribenhos no exílio. O Prof. Jean Baptiste Sebé, da França, coleta e evidencia em seu texto o melhor do percurso da teologia europeia em seu já antigo e sólido diálogo com a literatura. Da Asia, Huang Po-Ho traz para o leitor de Concilium a fascinante experiência da literatura mandarim e seu potencial teológico. Finalmente, da África, Stan Chu Ilo, reforça a convicção da importância da leitura popular da Bíblia para a Teologia.
A terceira sessão, do Forum, traz pequenos textos teológico literários que encarnam concretamente aquilo que a teoria e a reflexão procuraram dizer nas seções anteriores. Foram selecionados alguns teopoetas de carne e osso que, após uma breve apresentação, trazem até nós sua teopoética, inspiradora e iluminadora. São eles: o bispo profeta e poeta Pedro Casaldáliga, do Brasil, o trapista de Solentiname, na Nicarágua Ernesto Cardenal; o pastor e mártir Dietrich Bonhoeffer, que compunha poemas na prisão que seria sua última morada; o monge escritor estadunidense, fascinado pelo Oriente Thomas Merton; o cientista e místico frances Pierre Teilhard de Chardin. E a poetisa brasileira Adelia Prado. Esperamos que este número de Concilium anime mais aqueles que hoje se dedicam à pesquisa e à docência teológica a aventurar-se pelos caminhos da estética e muito particularmente da Literatura. Ali certamente encontrarão novas inspirações que poderão fecundar-lhes a reflexão em tempos onde ainda se sentem as consequências de um longo inverno eclesial.
Inhaltsverzeichnis
1. Artikel
Heather Walton – Theology in the way we live now: a Theopoetics of life writing
Cecilia Avenatti de Palumbo – Literatura: una importante mediación hermenéutica para la Teología
Luce López-Baralt – La poética del silencio en el “Cántico espiritual” de San Juan de la Cruz
José Tolentino Mendonça – A Leitura Infinita – Escritura e Interpretação
Vittorio Montemaggi – Dante’s Theology
Luis Gustavo Meléndez Guerrero – Gramáticas de la carne: eros, poesía y cuerpo en relación
2. Stimmen aus den fünf Kontinenten
Carmiña Navia Velasco – Miradas Teológicas en la Literatura Latinoamericana
Mayra Rivera – Poetics of Survival
Jean Marie Sebé – L´écrivain et le Christ: “Le mot, c´est le Verbe et le Verbe c´est Dieu”
Huang Po-Ho – Doing theology with literature: an Asian attempt
Stan Chu Ilo – Theology and Literature in African Christian Faith: Hearers of the Word in Africa
3. Forum: Theologisch-literarische Beiträge
Emerson Sbardelotti – Dom Pedro Casaldáliga
Faustino do Couto Teixeira – Ernesto Cardenal
Marcio Capelli // Edson Fernando de Almeida – Dietrich Bonhoeffer
Marcelo Timotheo da Costa – Thomas Merton
Ursula King – Pierre Teilhard de Chardin’s First Essay “Cosmic Life” and his Prayer to the Cosmic Christ
Cleide Oliveira – Algumas considerações sobre a poética de Adélia Prado
Zusammenfassungen
Heather Walton – « Theology in the Way we live now: Theopoetics of Life Writing » : This article explores two trajectories within contemporary theopoetics. The first affirms and deepens the theological tradition and the second offers radical challenges to theological thinking. Both trajectories are evident within the turn to life writing in theological reflection as is illustrated with reference to recent work on the life of Dorothy Day. The article argues that life writing is best able to make a theological contribution when the ambivalent and occluded aspects of human experience are foregrounded and are enabled to offer new insights into our relation with the divine.
Cecilia Avenatti de Palumbo – « Literatura: una importante mediación hermenéutica para la Teología » : El artículo propone una renovación del modo de pensar de la teología a partir de la consideración del papel de la imaginación creadora que caracteriza a la literatura considerada como hecho estético. En base a una evaluación del estatuto interdisciplinario del diálogo entre la teología y la literatura, se señalan los aciertos y los límites del camino recorrido desde el Concilio Vaticano II hasta nuestros días. La ineficacia de las vías transitadas para generar una verdadera transformación del lenguaje teológico condujo a la autora a explorar otras posibilidades. El giro consiste en que la teología se mire en el espejo de la imaginación creadora como eje del quehacer literario, a fin de generar una renovación en el proceso y el modo teológico del pensar. En definitiva, se trata de recuperar la imaginación y la acción para revitalizar a la teología devolviéndola a la capacidad creadora como a su fuente originaria.
Luce López-Baralt – « La poética del silencio en el “Cántico espiritual” de San Juan de la Cruz » : San Juan de la Cruz sabe bien que el lenguaje es insuficiente para dar cuenta de la experiencia mística, y por eso sugiere la vivencia indecible de la cima del alma silenciando sus palabras, para que no desacralicen el milagro unitivo. Por eso en el „Cántico“ pasa en silencio los instantes en cúspide que hubieran tenido que dar cuenta de las bodas ultramundanas con Dios. Esconde estos silencios imperceptibles, cual tesoro palpitante, en el intersticio reverente que separa las estrofas unitivas o algunos versos claves del poema. San Juan deja así su palabra poética inaudible, oculta, inviolable, como su unión con Dios. Son sus mejores versos: los que inscribió en el silencio, los que labró con aire, los que supo proteger de la tosca envoltura de la palabra, a los que les negó imagen y cadencia musical. Estos versos enmudecidos, más aleccionadores que sus hermosísimas palabras desvalidas, nos aleccionan con su silencio grávido de infinito. Solo con este silencio podemos celebrar con reverencia la magnitud de lo acontecido: el encuentro inimaginable con el Dios vivo.
José Tolentino Mendonça – « A Leitura Infinita – Escritura e Interpretação » : A história da exegese bíblica contemporânea faz-se contando três viragens hermenêuticas fundamentais, onde o conhecimento da literatura tem sido sempre um parceiro indispensável: a hermenêutica centrada no autor, aquela centrada no texto e aquela que parte do papel do leitor. Estas deslocações de paradigma não implicam a supressão do modelo anterior, mas muitas vezes são concomitantes ou complementares, num processo atento à complexidade do ato de interpretar. Todas estas viragens partem de um pressuposto fundamental: o texto é textum, é têxtil, textura, tecelagem, trama, tecido. Por consequência, a interpretação não pode viver da aspiração ou da imposição de um sentido unívoco. Interpretar é – como ensina a literatura – apreciar o plural de que o texto é feito, no dinamismo singular que lhe é inerente. Só isso nos dá acesso ao infinito da leitura.
Vittorio Montemaggi – « Dante’s Theology » : Dante’s theology is defined by the realization that God is love. At the beginning of the Commedia, Dante tells us that it is from divine love – “l’amor divino” – that creation issues, and it is in and as that love that Dante’s journey famously ends: “love moves the sun and other stars“. So as to move from the “lovely things“ to union with the love that gives them being in Paradiso, Dante takes us through Hell, Purgatory, and Paradise, and invites to reflect on human community as it fails, learns, and succeeds to live in full participation of the love that grounds (its) existence. As such, Dante’s theology is at once infinitely rich and profoundly simple.
Luis Gustavo Meléndez Guerrero – « Gramáticas de la carne: eros, poesía y cuerpo en relación » : Hacer evidente la relación entre el eros, el cuerpo y la poesía mediante la articulación de las letras sacras y profanas, configura lo que en este trabajo se entiende como las gramáticas de la carne: la narrativa evangélica, la mística y la erótica poética.
Carmiña Navia Velasco – « Miradas Teológicas en la Literatura Latinoamericana » : Nuestro repaso es apenas una pequeñita muestra de lo que en materia de relación entre cristianismo y literatura suman cinco siglos de nuestro caminar literario, como pueblos hispanoparlantes. Pero idéntica realidad o parecida la encontramos en el ámbito brasilero. Ese examen queda pendiente de realización.
Mayra Rivera – « Poetics of Survival » : This essay argues that the link between art and survival shapes Caribbean understandings of the term “poetics”. Focusing on works by Derek Walcott and Édouard Glissant, it explains how their poetics uncovers the devastating effects of colonialism and slavery in the Caribbean—including the detrimental consequences of imaginaries informed by Christianity—even as it also seeks to articulate possibilities to move beyond those imaginaries toward new ways of being
Jean Marie Sebé – « L´écrivain et le Christ: “Le mot, c´est le Verbe et le Verbe c´est Dieu” » : Si Jésus Christ a été source inépuisable d’inspiration pour les écrivains, la réflexion sur le rôle du Verbe dans la création littéraire a été peu explorée. En parcourant trois écrivains (Hopkins, Lemaire, McCarthy), l’article vise à montrer comment Jésus-Christ est un vis-à-vis singulier pour l’écrivain : celui qui est la Parole le renvoie par les mots au déchiffrement du monde resplendissant des éclats du mystère inaccessible de Dieu.
Huang Po-Ho – « Doing Theology with Literatures: An Asian Attempt » : Literature as a form of expression for human thoughts and emotions is more or less, explicitly or implicitly revealing the circumstance of the particular age or its religious background of the authors. There are numerous great literatures in the world, which have come to existence under deep affection of different religions. The discourse of “theopoetics” in general and particularly in relationship with the interpretation of Scripture and theological reflection is still a very recent development of the intersection between esthetics and rationality. It puts theology in dialogue with all forms of aesthetics: art, literature, music etc. Theopoetics suggests that instead of traditional systematic theology that trying to perceive the nature of God through scientific theories, it is more accurate for theologians to talk about God through poetic articulation. Different approaches have been taken to engage theology and literatures, It is however, most of these approaches are still taking literature as s subject foreign to theology. The principle of doing theology with Asian resources is in some degree to implicitly illustrate the theological conviction of many Asian theologians that “Identity determines theological resources”. Cultural resources are generated through people’s struggling with their surrounding world throughout their histories. Arts, poems and literatures are thus, no longer considered as only an instrumental role to enhance Biblical hermeneutics and theological discourses, but are a step further being taken as resources of theology.
Stan Chu Ilo – « Theology and Literature in African Christian Faith: Hearers of the Word in Africa » : This essay argues that African theological productions employ multiple methodologies and genres which combine both literature and orature. The essay demonstrates the richness of African theological representations in stories, cultural symbols, liturgical music, dance, mimetics, poetics and biographies. These media of theological communication emerge both within formal and informal settings in both the academy, as well as outside of it. African theologians are now harvesting the text for theological reflection in multiple sites and stories of actual faith of African Christians in shrines, healing homes, war fronts, social ministries, political campaigns, social media etc. The Bible is presented in this essay as the most important Christian literature in Africa. The essay shows the relationship between biblical narratives, their composition, literary style, content, and the social world of this Christian literature and the African social context and world of faith. African theologies are taking the form of the biblical text, and are reading the momentum of Christian expansion in Africa as a text which like the Bible reveals the footprints of God in history.